Todo ser humano possui o instinto gregário, a necessidade de conviver com semelhantes. Assim, o desejo de ser visto, de ser compreendido, enfim, de ser aceito como pessoa, torná-se uma das maiores motivações humanas.
E também pode vir a se tornar o motivo de muitos equívocos e sofrimentos para muitos.
É comum, no mundo atual, valorizar a pessoa não pela sua essência, mas pelo o que ela aparenta ser. Tal atitude é o mesmo que conferir o valor das pessoas utilizando como medida somente os parâmetros de ordem material como o status social advindo de um título, de um cargo profissional, de um modelo de veículo, de um corpo bem malhado etc.
Tais parâmetros podem ser denominados de “maquiagens” ou “próteses” quando trata-se de artifícios utilizados para compensar o sentimento de insegurança e/ou a ausência de um sentimento de valor próprio. Quem vive assim é porque depende do julgamento que os outros fazem dela, com isso, acaba acreditando que o seu valor relaciona-se com as coisas que possui.
Viver a partir de parâmetros superficiais da aparência, é como carregar nas costas um fardo que só tende a se tornar cada vez mais pesado por gerar uma ambição desmedida e, com isso, a pessoa tende a viver sempre em um estado de insatisfação permanente.
Devo frisar que a auto-aceitação não implica no fato de abrir mão da busca pelo conforto e pelos prazeres proporcionados pelo dinheiro. Isto não é somente válido como também é a recompensa de quem faz por merecer. O grande desafio é conciliar as realidades subjetiva e objetiva através do discernimento do que eu desejo com o que me é necessário.
Se uma cirurgia plástica em meu rosto vai me deixar com uma aparência jovial, ótimo, que eu me permita realizá-la. Mas se eu apostar que a cirurgia resolverá todos os problemas da minha vida ou que me tornará uma pessoa perfeita, passada a euforia do novo visual, me verei imerso na frustração.
Se eu dispor de dinheiro para comprar um veículo da melhor marca, é bem provável que eu o faça. Mas se eu pensar que dentro daquele veículo me tornarei uma pessoa melhor, logo, logo, sentirei um vazio dentro de mim e, então, me verei impelido a comprar um novo veículo.
A nossa auto-aceitação influencia tremendamente a qualidade de nossos relacionamentos, uma vez que nos torna mais seguros e confiantes, livres daquelas paranóias comuns às pessoas que, movida pela ânsia de serem aceitas, se submetem à vontade dos outros ou se valorizam diminuindo os outros.
Observo nas pessoas dotadas de auto-aceitação um refinamento, ou seja, um modo de ser em que misturam a simplicidade e a sutileza na interação com o mundo e, principalmente, com as pessoas.
Pessoas assim, dão mais valor à intensidade que à frequência que ocorre o encontro, por isso, são pessoas que entram em nossa vida sem que vivam nos ligando ou nos visitando todos os dias.
Outra questão que os tornam presenças agradáveis é que, por compreenderem a diversidade humana, além de respeitarem as diferenças individuais, não se metem a nos dar conselhos e nem sermões. Também notamos nelas a sutileza de evitar assuntos que tragam constrangimentos, como doenças, tragédias, comentários maldosos etc, nas conversas habituais.
Resumindo, trata-se de pessoas que vivem uma realidade paradisíaca, isto é, vivem conectadas com a harmonia inabalável existente em seu mundo interior.
E por falar em realidade paradisíaca, convém aqui a célebre frase de Sartre: “O inferno são os outros”. Ele não quis dizer que as pessoas são más. O inferno a que se referia é aquele da situação que já descrevi linhas atrás, é quando a pessoa passa a viver dependendo do julgamento que os outros fazem dela e, que a partir daí, ela deixa de ser espontânea e natural por estar sempre recorrendo às “maquiagens” e às “próteses” na tentativa de se fazer valer como pessoa.
Texto de meu amigo e mestre Hélio Arakaki...
...um homem sábio e verdadeiro. Um querido.
Hélio Arakaki- Educador, Prof de Karate, Facilitador didata de Biodanza, Consultor para o desenvolvimento dos potenciais humanos em empresas - www.muryokan.com.br
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