quarta-feira, 20 de julho de 2011

O IPÊ AMARELO QUE REESCREVEU A SUA HISTÓRIA...

A nossa história começa numa floresta em Rondônia.

Depois vai para a capital.Dizem que o pai da nossa personagem já vivia há mais de uma centena de anos e era respeitado na floresta quando ela nasceu.

Provavelmente, com a ajuda de um pássaro, ela foi semeada num local próximo ao que seus descendentes viviam.

Trazia na sua história a vontade de viver.

Mas sobreviver não bastava: aquela sementinha já sabia que teria também que dar vida, dar abrigo, dar frutos.

A história de sua espécie previa ainda que teria um talento especial para a arte: suas flores dariam um belo espetáculo amarelo...

Sua arte encantaria o homem a tal ponto que quem parasse e o enxergasse, se iluminaria com o seu significado.

Em 30 dias a semente germinou.

Em 9 meses, chegou a 30 cm.

E levou algumas décadas para chegar à altura de um poste. Mas ela nunca quis ser poste. Sua vocação sempre foi ser Ipê amarelo.

Queria escrever uma bela história de vida.

No entanto, os olhos famigerados do homem não viram nada sagrado, nenhuma história, nem arte nenhuma.

Só viram que aquela vida daria coisas lucrativas.

Depois de ser cortada, arrancada e esquartejada, seus galhos menores e flores iriam direto pro lixo, seus galhos médios viajariam milhares de quilômetros até alimentar os fornos de pizzas paulistanas e por fim, seu corpo inerte seria enterrado na capital de Rondônia, o seu tronco morto seria reerguido e, morto em pé, viraria poste, na Cohab Floresta, Porto Velho.

A arte florescente daquele Ipê Amarelo foi apagada.

Como poste, por muitos anos, não trouxe mais luz nenhuma, só transportava a luz, fria.

Era como um morto-vivo que só carregava a energia (dos outros) de um lado para o outro. Mas aquele ipê não esqueceu suas raízes.

Teimou em continuar vivendo.

Mesmo sob alta tensão, insistiu em dar seus últimos suspiros amarelos. Se fez florescer.

E os homens de Porto Velho ficaram tão emocionados quando viram o que fizeram com o Ipê Amarelo que decidiram cuidar dele e levantaram, ao seu lado, outro poste (agora de concreto) para transportar a energia do homem contemporâneo.

Essa história me faz pensar que histórias temos escrito e quais estamos escolhendo escrever em cada linha de energia de nossa vida...

Fabio Lisboa

http://www.fabiolisboa.com.br/