quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DE VOLTA PRO ACONCHEGO...


Estou saindo de cena.
Dando um tempo por aqui...dando um tempo em minha vida... dando um tempo pra mim.
Vou pro nordeste, mais precisamente pra Pernambuco, pra minha terra querida.
Claro que tudo é Brasil, mas meu Pernambuco tem um sabor peculiar.
Sabor de terra, de chão, de gente.
Diz-se que os pernambucanos são os brasileiros mais orgulhosos dos brasileiros.
Deve ser verdade, em termos.
Mas não acredito que seja orgulho.
É mais um sentimento de amor àquele pedacinho de chão.Chão sofrido, rachado pelas secas que
devastam tudo, matando homens e animais.
Caruaru.Minha cidade.Agreste pernambucano.
Só quem viveu pode sentir sua agrura e seu encanto.E eu vivi.E carrego comigo todas as sensações marcadas em minha alma de nordestina nata.

Tanto tempo sem ir lá...tanto tempo...
Perdi a conta dos anos.
Vim pra são Paulo aos 9 anos. Casei aqui, tive filhos paulistas.
Adoro São Paulo, é minha cidade do coração.
Mas agora volto.Volto pro meu sertão.
Quero rever lugares de minha infãncia, trazer à memória um tempo vivido onde a única coisa importante era saber que bicho a avó tinha caçado para o jantar.
E que bela caçadora, a vó Nina...nunca nos decepcionou.
Sempre trazia umas rolinhas(tadinhas!), uns tatus, uns calangros (meus charás...) umas ticacas, espécie de gambá que fedia pra caramba quando cozinhavam.
Ninguem ligava pro fedor. A fome...
As cobrinhas não escapavam, tambem.Vez em quando ia uma pra panela. com leite de côco e coentro.Sabor de peixe...
Posso dizer que até era bem gostoso o quitute...
Minha avó era excelente cozinheira, e se ela cozinhasse pedra, até isso seria bom.Danada!
Estas lembranças povoam minha memória, e quero, voltando ao lugar, avivá-las.
Quero subir os lagedos, beber água das caçambas, comer um queijo de qualho frito no café da manhã.Cuscus, tapioca, xerem...
Voltar pro meu sertão vai ser muito bom!
Eu vou, mas volto. Me espere!





TER OU NÃO RELIGIÃO


Hoje quero falar de um tema que cria muitas polêmicas sempre que vem à baila.
TER OU NÃO TER RELIGIÃO.
Já de pronto aviso aos desavisados que não tenho desde que saí de um colégio de freiras quando fazia o ginasial em meados dos anos 60'.
Foi tanta reza, tanto santinho, tanta novena, tanto terço,tantos rosários...
Explicando melhor, rosário são as rezas de 3 terços.
Para os que não sabem, rezar um rosário significa rezar 150 Ave-marias e 15 Pai-nossos.
Toda a via -sacra.
Cinco mistérios gozozos...cinco dolorosos... e cinco gloriosos.Haja mistério...
É reza pra não acabar mais.Reza "pra mais de metro".
Dá pra entender, agora, porque diz-se que um chororó é o mesmo que um
"rosario de lágrimas".
Chorei muitas vezes este rosário, porque esta reza era antes do jantar, às 6 da tarde, quando os estômagos estavam "berrando" de fome.
Mais de uma vez cheguei a desmaiar no banco da capela de fraqueza.Uma tortura.
Mas não foi só por isso que deixei de ser religiosa, não.
Muitas coisas mais foram responsáveis pelo meu afastamento.
Mais sérias, que envolviam a questão de acreditar ou não nos dogmas que nos impunham.
A bem da verdade sempre fui rebelde, e não me contentava a explicação que davam:
-É DOGMA E PONTO!
Tem que acreditar sem muitas perguntas.Mesmo porque não teriam respostas.
Ou se acredita, ou se é expulso, excomungado, execrado.Ovelha negra.
Como não dou a mínima para este tipo de coisa, nem fui expulsa nem excomungada.
Simplesmente saí fora.
A partir dali segui a vida à minha maneira:- sou do bem, faço o bem.
Acho que é a coisa mais importante.
Bem ou mal, você escolhe.Independe de religião.
Mas nunca fui contra ou contestei quem adota, quem pratica...
Casei na igreja, batizei meus filhos pra não contrariar as familias, afinal, porque não???
SE BEM NÃO FAZ, MAL TAMBEM NÃO.
Mas aos meus filhos NUNCA ensinei absolutamente NADA sobre as religiões.
NUNCA ajoelhei com eles pra rezar o "santo anjo do senhor".
Sempre deixei para que eles pesquisassem e seguissem o que quizessem.Nunca interferi.
Nunca aconselhei.Nem contra nem a favor.
Não creio em rezas.Não creio em nada.Sou completamente agnóstica.
Digo às vezes que sou atéia, mas nem isso sou, porque não tenho certeza de nada.
Os ateus afirmam categóricamente que DEUS NÃO EXISTE.Eu não digo.
Se deus existe, se não existe, não me diz respeito, não me interessa.
Pra mim deus é força de vida, energia, inexplicável.
"Luminosa, imperscrutável"...como afirma minha autora preferida, Lya Luft.
Fico de fora da discussão.As religiões ou a ciência que expliquem.
A mim até agora não explicaram nada.Sigo questionando.
A bem da verdade não estou nem um pouco preocupada com o que vim fazer nesta terra nem com o que vai acontecer comigo quando eu morrer.
VIVO, simplesmente.Em plenitude.E amo.
Não me ponho rótulos.Acho isto tolice.
Procuro ser sempre ética, ter compaixão humana, humildade, bondade.
Ver um irmão em meu semelhante.Amar o próximo.
Claro que com todas as falhas inerentes do ser humano, porque somos seres humanos passiveis de falhas.Não há como fugir disto.
Cansei de procurar explicações para o inexplicável da vida...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

ESVAZIE A MALA....

Mais uma bela mensagem do meu sábio amigo Hélio Arakaki.Vale conferir.

Para uma viagem verdadeiramente prazerosa, esvazie a mala

Em pleno século XXI, monges de determinadas linhagens budistas viajam somente com as vestes, um manto cobrindo o corpo, uma vasilha para se alimentar e um cajado para se defender de algum animal selvagem. Nem uma mala ou um saco, apenas o que para eles é necessário.

Em contrapartida, percebo em nosso meio, principalmente com as mulheres, mesmo para viagens breves de um final de semana, o costume de levar malas lotadas de roupas e objetos. Casualmente, quando me aventuro a perguntar para algumas delas qual o motivo de carregar tanta coisa, ouço respostas variadas que se traduzem numa intenção: tornarem-se mais bonitas ou elegantes.

O fato é que, eu, quando mais jovem, também passava o meu tempo preocupado com a quantidade de roupas que deveria levar na mala. Resultado: o desconforto em levar uma bagagem pesada na viagem.

Os anos se passaram até que, além de aprender a fazer a mala num piscar de olhos, já a faço mais leve. Hoje já não me preocupo com o desgastante dilema do levo ou não levo.

Vendo a vida como um grande holograma, onde cada um de nossos atos evidencia a totalidade de nosso ser, o fato de tornar a mala mais leve eu relaciono com a minha disposição de não carregar mais os pesos desnecessários nas costas.

A verdade é que, embora continue carregando algumas coisas desnecessárias a mais, constato que muitas percepções, conceitos e atitudes mudaram em mim. Por exemplo, a afirmação de que levar mais roupas é um ato de prevenção para os contratempos já não me soa como um fato indiscutível, tanto que a frase “um homem prevenido vale por dois”, conforme a situação, eu a altero para “um homem prevenido vale por dois, sendo um inseguro e o outro indeciso”. Pois o que pode estar por trás do hábito de carregar uma mala cheia de roupas em que muitas delas não vão ser usadas na viagem? Provavelmente a insegurança e a indecisão.

Certa vez me perguntei: “Afinal de contas, o que me gera insegurança e indecisão?” Fiz uma lista enorme de questões envolvidas, mas depois percebi que a causa é única, o medo do desconhecido.

Recorrendo novamente à mala, explico. Vou viajar. E isto significa que sairei de uma zona que me é familiar para ir a um local desconhecido. Daí que então sou tomado por um estado de incerteza e insegurança que me levará a raciocinar assim: se fizer frio, terei este casaco, se não fizer, terei esta blusa leve. Aí acabo levando o casaco e a blusa tornando a mala pesada. Conclusão: abarroto a mala de coisas desnecessárias por me oferecer certa sensação de segurança.

Quanto ao fato das minhas malas estarem mais leves, associo também ao meu exercício do desapego, tal como os monges que viajam apenas com o minimamente necessário. Longe de querer me comparar a eles, é que, de certa forma, já não carrego grandes desejos e ambições que um dia me motivaram. É certo que anseio por melhores condições de vida, mas não coloco o dinheiro como o grande objetivo existencial. Prefiro mais leveza e fluidez na vida, condições que somente a simplicidade pode oferecer.

Hoje, véspera de final de ano, meu amigo Jorge Ono, veio me presentear com um doce típico japonês, o mochi, pronuncia-se moti. É feita de arroz, apresenta-se como uma massa macia e maleável que pode ser moldada facilmente, e que, servida na comemoração de ano novo, apresenta como símbolo de mudança. Serve para lembrar que o ano será realmente bom se tivermos a capacidade de mudar, ou seja, de esvaziar cada vez mais a mala de pensamentos e atitudes que já não nos servem mais para que as futuras viagens sejam mais leves e verdadeiramente prazerosas.


Hélio Arakaki- Educador, Prof de Karate, Facilitador didata de Biodanza, Consultor para o desenvolvimento dos potenciais humanos em empresas - www.muryokan.com.br contato@muryokan.com.br